GERAÇÃO

Vestígios arqueológicos são resgatados na Usina Mauá

Mais de 50 mil peças resgatadas deverão compor, no futuro, o acervo de museus e núcleos de pesquisa

por Ana Silvia Laurindo da Cruz

  • Detalhe de ponta de projétil
  • Periodização arqueológica na área da UHE Mauá

Foi concluído, em março, o resgate de sítios arqueológicos encontrados na área do reservatório da Usina Hidrelétrica Mauá, em construção no rio Tibagi entre Telêmaco Borba e Ortigueira (PR). Estima-se que, de 2009 até agora, foram resgatadas no local cerca de 50 mil peças – fragmentos de recipientes cerâmicos e artefatos líticos como pontas de flechas e utensílios de pedras lascadas, que pertenceram a antigos grupos humanos.

A historiadora da Diretoria de Meio Ambiente e Cidadania Empresarial, Jacira A. Campos Ramos, explica que todo o material arqueológico, depois de fotografado e higienizado, é acondicionado e enviado para um laboratório de pesquisa, onde é analisado a fim de se levantar possível datação, matérias-primas utilizadas e funcionalidade. “Com a conclusão das pesquisas, as peças serão enviadas a universidades e museus, onde servirão como fonte de informação e pesquisa, de acordo com a definição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan”, explica.

Foram encontrados, somente na área do reservatório da Usina, 104 sítios arqueológicos, tanto em áreas utilizadas para lavouras como em terrenos com mata nativa e em abrigos sob rochas. Logo que os sítios são identificados e demarcados, eles precisam ser escavados para que os artefatos sejam resgatados e as áreas sejam liberadas para o empreendimento. A profundidade das escavações varia, pois depende da sedimentação do solo e da concentração de material arqueológicos existente em cada camada do terreno. “Pode haver vestígios de mais de uma ocupação no mesmo sítio, de épocas bem distantes umas da outras. São os chamados sítios multicomponenciais, em que há sobreposição”, comenta Jacira.

Uma primeira etapa do Programa de Resgate do Patrimônio Arqueológico havia sido concluída em 2008, na área do canteiro de obras da Usina Mauá, quando foram identificados e resgatados quatorze sítios arqueológicos. Todo esse trabalho estava previsto no Projeto Básico Ambiental da hidrelétrica, do qual fazem parte outros 20 e programas e 13 subprogramas que têm como objetivo mitigar e compensar impactos negativos, bem como potencializar benefícios da instalação do empreendimento na região. A concessão para construir e operar a Usina Hidrelétrica Mauá pertence ao Consórcio Energético Cruzeiro do Sul, no qual a Copel detém 51% de participação.

SURPRESAS

Ao longo dos quatro anos de trabalho voltado à preservação do patrimônio arqueológico da região da Usina Mauá, os pesquisadores foram surpreendidos com a localização de duas casas subterrâneas, popularmente conhecidas como “buracos de bugre”, que serviram de fixação para possíveis grupos da Tradição Itararé, que corresponde aos antepassados dos atuais Kaingang. No local, foram recolhidas estruturas de fogueiras, cinzas, restos de alimentos, fragmentos cerâmicos e de carvão.

Destaque também para a descoberta de urnas funerárias paleoindígenas praticamente intactas – um grande feito naquele local, considerando que ele estava tomado por atividades de agricultura e pecuária que costumam por em risco sítios arqueológicos mais superficiais.

DIVULGAÇÃO

O projeto de preservação do patrimônio cultural arqueológico fruto do resgate realizado na Usina Mauá deverá servir como referência para outros projetos hidrelétricos no Brasil. No início deste ano, representantes da Copel e da Eletrosul – integrantes do Consórcio Energético Cruzeiro do Sul –, do Ministério Público Federal, do Iphan e do Instituto Ambiental do Paraná firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que define um conjunto de ações voltadas à preservação e disseminação do conhecimento produzido a partir desse trabalho.

O acordo inédito prevê a criação de um Museu de Território com núcleos museais inseridos em 14 municípios: Arapoti, Carambeí, Castro, Imbaú, Jaguariaíva, Ortigueira, Palmeira, Piraí do Sul, Ponta Grossa, Reserva, Sengés, Telêmaco Borba, Tibagi e Ventania. Também devem ser realizadas atividades de pesquisa, ensino e extensão em Arqueologia e Educação Patrimonial por meio de parcerias com universidades, além da publicação de estudos, inclusive nas línguas das comunidades indígenas locais.

Confira acima a tabela de periodização arqueológica na área da UHE Mauánas.