MEIO AMBIENTE

Os hortos da Copel e suas preciosidades

Espaços mantidos em estreita integração com as usinas auxiliam na recuperação de áreas degradadas, reutilizam materiais descartados e ainda produzem espécies raras e ameaçadas de extinção

A Copel mantém em suas usinas um verdadeiro “berçário” verde. São cinco hortos florestais e um jardim botânico onde a Companhia produz, todos os anos, cerca de 300 mil mudas, entre espécies nativas e exóticas.

Estrategicamente alocados para atingirem todas as tipologias vegetais do Estado do Paraná, que vão da Floresta Atlântica, Floresta de Araucária e Floresta Estacional (perobal) até o campo nativo e o cerrado, esses locais produzem as espécies mais adequadas para cada região. Dessa forma, também servem para pronto atendimento às crescentes demandas de reflorestamento e de doação de mudas em todo o Estado, como compensação pela instalação de empreendimentos de Geração, Transmissão ou Distribuição.

A maioria das mudas é utilizada em programas específicos, como o Florestas Ciliares – que promove o plantio de mudas nativas nas margens dos reservatórios e fomenta o reflorestamento em seus rios afluentes e a Arborização Urbana que incentiva as prefeituras a planejar a arborização de ruas para minimizar os conflitos entre as árvores e redes de distribuição de energia.

Mudas exóticas também são produzidas para o melhoramento contínuo da paisagem das usinas e, ainda, para ornamentação das áreas administrativas da companhia.

Exemplo de qualidade paisagística é, sem dúvida, o Jardim Botânico da Usina Gov. Bento Munhoz da Rocha Neto, localizado em Faxinal do Céu, município de Pinhão. Um verdadeiro parque de contemplação e conhecimento, que agrega ainda mais beleza à região. “É um lugar de grande importância cultural e ornamental, com potencial educativo e de sensibilização fantástico, pela beleza e variedade das plantas”, descreve o engenheiro florestal Mário Torres.

Estruturados sobre áreas desativadas da época de construção das usinas, grande parte dos hortos se estabeleceu em áreas degradadas, hoje totalmente recuperadas dos pontos de vista paisagístico e ambiental. Além disso, a reutilização de materiais considerados sucatas, tanto para usinas quanto para linhas de transmissão e distribuição, é uma marca registrada destes espaços. São principalmente postes, cruzetas, perfis metálicos, cordoalhas e parafusos, que, nos hortos, têm assegurada uma reutilização prática e ambientalmente adequada.

Complementando a produção de mudas, com os recentes resgates de flora feitos nas usinas de Mauá e Cavernoso II, bem como em várias linhas de transmissão que cortam o Estado, os hortos passaram a armazenar um grande número de plantas epífitas, ou seja, plantas que vivem sobre as árvores, como orquídeas, bromélias e samambaias. “Este material é conservado e reproduzido nos hortos e, em grande parte, será novamente transplantado nas áreas de preservação permanente das regiões de origem”, ressalta o técnico florestal Nelson Quingerski, responsável pelos hortos da Copel.

Nos três maiores hortos da Copel, das usinas Gov. José Richa (Salto Caxias), Gov. Ney Braga (Segredo) e Gov. Bento Munhoz (Foz do Areia), são mantidas composteiras, que utilizam o material orgânico descartado nos refeitórios como matéria-prima para produzir o substrato usado no cultivo das mudas. O material sai dos refeitórios e passa por um processo de decomposição, que conta com a ajuda de bactérias e minhocas, até ficar apto a ser misturado à terra, areia e adubos naturais. “Com ações como estas, apenas em Salto Caxias, nos últimos quatro anos, foi evitada a transferência para aterros sanitários de 392m3 de resíduos”, conta o técnico florestal Claudemir Dantas da Silva.

Espaços reproduzem espécies raras

Os hortos da Copel guardam ainda algumas peculiaridades. Uma delas é a reprodução de espécies raras ou em vias de extinção – um desafio aos pesquisadores no que diz respeito ao domínio das técnicas de produção de mudas com características bastante específicas. Prova disso é o trabalho desenvolvido na Usina Governador Ney Braga, onde são produzidas mudas raras de sassafrás e xaxim, espécies nativas ameaçadas de extinção, e de palmeira buriti.

Em breve, mudas bem desenvolvidas de buriti serão plantadas na região de Segredo, no Jardim Botânico Faxinal do Céu e na região da PCH Cavernoso II.

O horto demonstrou ser também um espaço propício para o cultivo das mudas do xaxim (Dicksonia sellowiana). De crescimento muito lento, estima-se que o tempo necessário para que o xaxim alcance entre 3 e 4 metros de altura seja de 150 anos. Com corte proibido por lei, foi em 2012 que, pela primeira vez, os profissionais da Copel conseguiram fazer a reprodução dessa espécie, ameaçada de extinção pela exploração desenfreada no passado. Além disso, há ainda os sassafrás. A madeira dessa árvore é bastante usada para a fabricação de barricas para armazenamento de aguardentes.

Em Foz do Areia, a imbuia, o pinheiro-do-paraná e as belas flores de açucenas ganham destaque, a fim de compensar o desaparecimento a que estão sujeitas estas espécies em praticamente todo o Estado.

Na UHE Mauá, o Horto das Caviúnas recebeu o nome da árvore que hoje está sendo produzida para recuperar o seu “status” de dominante nas florestas de entorno. Perobas, ipês e pau-marfim, todos de madeira muito nobre para vários usos, e por isso mesmo sempre muito explorados, são encontrados aos milhares no Horto de Salto Caxias.

Espécies nativas do cerrado paranaense, como o barbatimão, sapuva-do-cerrado e flor-do-cerrado também têm sido cultivadas com sucesso no horto da Usina de Mourão, único local do estado em que isso acontece.

Na Usina Gov. Parigot de Souza, em Antonina, o horto local reproduz um pouco da exuberância da Floresta Atlântica e espécies raras encontradas apenas no coração da Serra do Mar paranaense. O guanandi, pau-alazão e pau-óleo-da-serra são espécies importantes que podem ser encontradas no local.

São iniciativas como estas que ajudam a salvar da extinção várias espécies, hoje bem pouco vistas em solo paranaense.

Trilha das Sapopemas encanta visitantes

No Jardim Botânico de Faxinal do Céu esconde-se um caminho permeado de sensações, que convida o visitante à contemplação e ao conhecimento. Durante os 40 minutos de caminhada que percorrem a Trilha das Sapopemas, é possível ver e sentir as cores, os cheiros e a textura das plantas que compõem este pedaço de floresta nativa preservada.

No trajeto de 1,5 km, a floresta ombrófila mista se impõe com suas árvores gigantes, liquens e musgos rasteiros, tornando o passeio não apenas contemplativo, mas, também, cheio de conhecimento: a cada passo, a gente aprende sobre as espécies da mata e a importância de sua preservação.

A Trilha das Sapopemas é, por isso, considerada uma trilha interpretativa, ou seja, um trajeto não apenas a ser percorrido, mas, sim, traduzido aos visitantes. Acompanhado de um guia ou educador, e ainda por meio de placas indicativas, quem faz a trilha consegue conhecer um pouco mais sobre as espécies que ali existem e as histórias do lugar.

Árvores típicas desse tipo de mata, como a erva-mate, a imbuia, o cedro-rosa e, claro, a araucária, podem ser contempladas no trajeto.

Sapopemas gigantes que podem ser observadas ao longo do trajeto dão nome à trilha – uma delas, estima-se, pode ter cerca de 500 anos. Essa espécie, segundo os biólogos, é um verdadeiro “condomínio vivo”. “Isso porque elas abrigam diversas outras espécies, como liquens, musgos e bromélias”, explica Vanessa Barreto da Silva, bióloga da Copel.

Localização

A trilha está localizada no Jardim Botânico Faxinal do Céu e pode ser percorrida por quem tiver interesse, mediante visitação agendada com o técnico florestal Ronielton Fernando Rosa, pelo telefone (42) 3664-1350. A visita tem acompanhamento de guia e pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 13h30 às 16h30.

Junto com programa estadual, mudas auxiliam na recuperação da biodiversidade

O reconhecimento do trabalho desenvolvido pela Copel em seus hortos florestais tornaram estes espaços integrantes do mais importante programa de conservação ambiental do Estado: o Bioclima Paraná. Em integração com os viveiros do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), as mudas de espécies nativas desenvolvidas irão auxiliar na recuperação da biodiversidade do Estado.

“Algumas espécies de plantas nativas importantes para o Estado são somente encontradas nos hortos florestais da Copel”, afirma o engenheiro florestal Murilo Lacerda Barddal, gerente do Departamento de Biodiversidade da Copel. “Com o resgate de flora da UHE Mauá, por exemplo, passaram a ser produzidas no local espécies que sequer tinham sido registradas pela ciência no Estado.”

Para o diretor de Desenvolvimento Florestal do IAP, Mauro Scharnik, esta parceria já dá resultados. Um deles foi o Curso de Restauração Ecológica, realizado no início do mês de novembro em Curitiba. O encontro teve a participação de técnicos das duas Instituições e contou ainda com o repasse de sementes (material genético) resgatados da área de enchimento do reservatório da UHE Mauá.