Museu Regional do Iguaçu

Ações Educativas

Nossa Missão

Educar para a sustentabilidade, por meio da guarda e valorização da memória cultural e ambiental do Paraná

Sensibilizar para a preservação da biodiversidade e de todas as formas de vida

Informar e educar sobre o repovoamento da ictiofauna do Iguaçu e cuidados com o meio ambiente, geração de energia elétrica com responsabilidade e compromisso ambiental.

Conteúdo para Pesquisa

A bacia hidrográfica do Rio Iguaçu (Características Geológicas)

O rio Iguaçu tem suas nascentes próximas à cidade de Curitiba e corre em direção ao oeste do Paraná. Com baixa declividade, forma uma sequência de meandros até a cidade de Porto Vitória. Daí em diante, passa a ter uma declividade maior, com a formação de corredeiras e saltos, culminando nas Cataratas do Iguaçu.
 
O comportamento do rio reflete as condições geomorfológicas e os tipos de rochas de fundação. No Estado do Paraná, a diferenciação geomorfológica é muito bem definida, caracterizada por cinco regiões denominadas: I) Litoral; II) Serra do Mar; III) Primeiro Planalto ou Planalto de Curitiba; IV) Segundo Planalto ou Planalto de Ponta Grossa e V) Terceiro Planalto ou Planalto de Guarapuava.
 
Geomorfologia
É um ramo da geografia física que estuda o relevo terrestre, suas formas, origem e evolução.A região litorânea é formada por uma estreita faixa de morros isolados, os quais são compostos por migmatitos, gnaisses e xistos, associados a sedimentos continentais e marinhos. A Serra do Mar, por sua vez, caracteriza-se pela ocorrência de morros elevados de composição granítica, constituindo um divisor de águas assimétrico, separando a região litorânea dos planaltos interiores.
 
O Primeiro Planalto, onde ocorrem as nascentes do rio Iguaçu, é caracterizado por topografia ondulada, cujas altitudes sobre o nível do mar são da ordem de 850 a 950 m. As rochas da região são caracterizadas pelo embasamento cristalino (gnaisses e migmatitos) e extensas planícies de várzeas, compostas por sedimentos recentes, onde o rio desenvolve seu curso. A limitação com o Segundo Planalto é determinada nos afloramentos dos arenitos da Serra do Purunã e da região da Lapa. Daí em diante, ocorre uma espessa sequência de rochas sedimentares, formadas por siltitos, arenitos e folhelhos dispostos sub-horizontalmente, com pequeno mergulho para oeste. O rio percorre uma extensão de 300 Km, por uma vasta região de várzea, com declividade da ordem de 30 m. Na região de União da Vitória, a cota normal do rio é da ordem de 742,00 m.
 
Finalmente, o rio Iguaçu chega ao Terceiro Planalto em rochas basálticas, onde é formada uma linha de montanhas denominada Serra da Esperança, com altitudes máximas de até 1300 m. O rio percorre por vales profundos escavados nessas rochas até seu desemboque no rio Paraná, em elevação inferior a 100 m. No mapa geológico do Estado do Paraná, pode-se identificar a disposição das grandes unidades geológicas da região e as subdivisões geomorfológicas. O perfil
geológico ao longo do rio Iguaçu mostra as camadas sedimentares e a cobertura dos basaltos, que são quase horizontais, com apenas pequeno mergulho para oeste, apesar de, no perfil, serem indicadas com inclinação bem maior que a real.
 
Os basaltos, com idade superior a 100 milhões de anos, são as rochas de maior significação no percurso do rio Iguaçu. Nestas rochas, em função da grande declividade e das boas qualidades topográficas, foram desenvolvidos os principais aproveitamentos hidrelétricos do Paraná, dentre eles a Usina Hidrelétrica Governador Ney Braga (Segredo) e Derivação do Rio Jordão. Os basaltos são rochas vulcânicas, formadas pela fusão de material pré-existente em zonas profundas da litosfera e conduzidas à superfície por meio de condutos vulcânicos, em forma de fendas, e depositadas na superfície através de sucessivos derrames, com espessura de 30 a 40 metros. Originalmente pode ter sido coberta uma área de mais de dois milhões de km². Atualmente, após os
processos erosivos, a área restringe-se a um milhão de km² envolvendo, além do Estado do Paraná, os Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul e os países vizinhos do Paraguai e Argentina. Os basaltos, na sua efusão sobre a superfície e posterior solidificação, assumem a forma de derrames sub-horizontais, em que os dois terços inferiores são compostos por basaltos maciços, com fraturação colunar, e o topo do derrame é constituído por basaltos vesiculares e brechas basálticas.
 
As rochas basálticas foram submetidas ao fenômeno de intemperismo, ou seja, um processo físico e químico que transforma as rochas em solos e processos de erosão, ocasionando o dissecamento dos vales e a formação de corredeiras e saltos.
 
No rio Iguaçu, este processo é facilmente evidenciado ao longo de seu curso, principalmente na região das Cataratas do Iguaçu, com queda da ordem de 70 metros, fazendo com que o local seja tão apreciado por milhares de turistas, que as visitam anualmente.

Flora típica da bacia do rio Iguaçu

No Paraná a flora é composta basicamente por cinco tipos vegetacionais: Cerrado, Floresta Atlântica, Campos Naturais, Florestas com Araucária e Floresta Estacional Semidecidual. Com exceção do Cerrado, todos os demais podem ser encontrados ao longo do Iguaçu.

Nas nascentes do rio é encontrada a Floresta Atlântica (Floresta Ombrófila Densa). Presente na porção litorânea do Estado até parte do Primeiro Planalto, essa floresta apresenta um elevado número de espécies, sendo a mais rica e preservada formação vegetal paranaense.

Já os Campos Naturais aparecem em três momentos ao longo do rio Iguaçu: nos Campos de Curitiba, no Primeiro Planalto; nos Campos Gerais de Ponta Grossa, no Segundo Planalto; e nos campos de Guarapuava e Palmas, no Terceiro Planalto. Este é um tipo vegetacional rico em gramíneas.

Ainda no Segundo Planalto, o Iguaçu entra no domínio das Florestas com Araucária (Floresta Ombrófila Mista), que tem como principal representante o Pinheiro do Paraná. Essa vegetação é formada principalmente por árvores de grande porte e, por vezes, é encontrada associada aos campos, quando é denominada capão.

A Floresta Estacional Semidecidual é encontrada no trecho mais baixo do Rio Iguaçu, no Terceiro Planalto. Ainda que seja menos diversa que os outros tipos florestais, é composta por muitas espécies arbóreas de interesse comercial. A última grande reserva dessa vegetação no sul do Brasil, e uma das mais importantes reservas biológicas do Estado do Paraná, é o Parque Nacional do Iguaçu.

Região da Usina Gov. Ney Braga
É composta por uma floresta de transição, onde ocorre o encontro de três tipos de vegetação: Floresta de Araucárias, Campos e Floresta Estacional Semidecidual. Esse encontro é responsável pela grande diversidade da flora e fauna na área da usina. Entre os espécimes da fauna, encontram-se mamíferos tais como veados, quatis, iraras, gambás, tatus, jaguatirica, aves de médio porte como gralhas-do-campo, gaviões e tiriva (catita), além de vários répteis.

Região Sudoeste
É representada pela Floresta Estacional Semidecidual, que atualmente é a região mais ocupada da bacia do Iguaçu. Observa-se, nesse ecossistema diversas espécies de aves como pombas, patos e marrecos selvagens, biguás, socós, além de ratos silvestres, serpentes (cascavel) e o jacaré-do-papo-amarelo.

Floresta Pluvial Subtropical
A principal área de preservação da bacia é onde se localiza o Parque Nacional do Iguaçu, tombado pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade. É possível identificar plantas típicas da ragião, como palmito, peroba, marfim e cedro, que ainda sobrevivem protegidas nesse ecossistema. O Parque, em sua faixa de floresta, abriga espécies de fauna e flora extintas em outras regiões florestais do Paraná, principalmente grandes mamíferos, como onça-pintada, anta (maior mamífero brasileiro), puma (sussuarana), queixada e aves como jacutinga, tucano-toco e macuco.
A memória cultural da região do médio Iguaçu está resguardada na exposição permanente O homem e a mulher do Iguaçu, em que é retratada a expansão demográfica e a riqueza cultural dos habitantes que ajudaram a formar a identidade paranaense na região. Nesta viagem através da história, o visitante entra em contato com alguns dos hábitos de vida e meios de sobrevivência dos povos caçadores-coletores, tanto da tradição Humaitá como da tradição Umbu, que habitaram o vale do Iguaçu cerca de 6.000 a.C. Sua cultura é representada no Museu por meio de artefatos líticos para caça, defesa, alimentação e rituais religiosos.

Floresta de Araucárias
Essa é a árvore símbolo do Paraná e pode chegar a 35 m de altura. Em décadas passadas cobria as regiões mais altas e frias dos planaltos paranaenses e abrigava inúmeras espécies da fauna local, como urubu-rei (corvo-branco), gavião-carijó, coruja-orelhuda, baitaca, coruja-buraqueira, codorna, surucuá, além de mamíferos como preás, furões e iraras.
O seu fruto, o pinhão, era muito procurado pelos animais locais e pelos indígenas como alimentação. A principal ameaça à espécie foi o seu uso indiscriminado pela indústria madeireira. O pinhão também tem sido amplamente coletado por pessoas que o apreciam e o aparecimento de novas árvores pode estar sendo prejudicado por isso. Atualmente a árvore é declarada imune de corte no Estado do Paraná.

Fauna na bacia do rio Iguaçu

Mamíferos
Os mamíferos presentes na região, aquáticos ou terrestres, são encontrados em todo decorrer do rio Iguaçu. São alguns deles o bugio-ruivo, o serelepe, o gambá-de-orelha-branca, o tatu-galinha, a irara, o tamanduá-mirim e até mesmo a onça pintada próximo ao Parque Nacional do Iguaçu. Na região do Museu estima-se a existência de aproximadamente 74 espécies de mamíferos, o que representa cerca de 11% dos mamíferos terrestres de todo o território brasileiro.
É um carnívoro aquático que possui distribuição em quase todo o Brasil, habitando rios, riachos e lagos próximos às florestas. As populações de ariranha foram quase totalmente dizimadas, sobretudo devido à caça por causa do alto valor de sua pele, nas décadas de 1950 e 1960.

Aves
O Paraná está entre os estados mais ricos na diversidade de aves, apresentando cerca de 744 espécies. Na região do médio Iguaçu, nas imediações da UHE GBM, foram constatadas 142 espécies de aves, mas esse valor pode subir para 368 espécies se forem considerados outros estudos que levam em conta a paisagem e dados geográficos. A grande riqueza de pássaros pode ser observada nos locais onde a vegetação encontra-se mais preservada. Ao longo do Iguaçu, esse grupo é representado por animais como o anu-preto, a coruja-buraqueira, a tiriva, o pica-pau, o tucano-toco, a curucaca, a gralha-picaça, o quero-quero e muitos outros.
Arara Vermelha: Este é um dos maiores psitacídeos brasileiros e geralmente é observado em pares ou pequenos grupos. Já foi considerada extinta no Paraná, mas alguns registros têm sido feitos nas porções oeste e noroeste do Estado. Na região da UHE GNB, entretanto, a arara-vermelha já não é mais encontrada.

Répteis
Os répteis são representados principalmente por serpentes, lagartos, tartarugas e jacarés e podem ocorrer em ambientes florestais, ambientes mais abertos e também em ambientes úmidos, como brejos e banhados. Embora na região da UHE GNB, a maioria desse grupo seja composta por serpentes, foram registradas 47 espécies de répteis, correspondendo a 30,5% do total destes no Estado do Paraná. Na Bacia do Rio Iguaçu encontram-se animais como o cágado-rajado, a jararaca, a cascavel, o lagarto teiú e o jacaré-de-papo-amarelo, entre outros.

Anfíbios
Os anfíbios, tais como salamandras, pererecas, rãs e sapos, são animais que vivem tanto em ambientes terrestres quanto em ambientes úmidos. Estima-se que na região da UHE GNB existam cerca de 36 espécies de anfíbios nativos. Na bacia do Rio Iguaçu pode-se citar como representantes desse grupo o sapo-cururu, o sapo-ferreiro, a perereca-cabrinha, a perereca-de-vidro e a rã-chorona, além da cobra-cega que, apesar do nome popular, também é um anfíbio.

Peixes
A comunidade de peixes, conhecida como Ictiofauna, apresenta 79 espécies diferentes em todo o Rio Iguaçu, dentre as quais, 52 estão presentes na região da UHE GNB. É possível encontrar peixes como o barrigudinho, a joaninha, diversos tipos de lambaris e o Surubim do Iguaçu, que estava sob risco de extinção, mas voltaram a povoar o Rio através dos trabalhos da Estação Experimental de Estudos Ictiológicos da Copel.
Além dos grupos citados acima, a bacia do Rio Iguaçu abriga diversas espécies de artrópodes, o maior grupo de espécies animais descritas. Fazem parte desse conjunto: crustáceos, como os camarões e os caranguejos; aracnídeos, como as aranhas e os escorpiões; e insetos, que correspondem à maioria dos artrópodes, como borboletas, besouros, vespas, pernilongos, gafanhotos e esperanças.

Endemismo
É um fenômeno em que algumas populações da fauna ocorrem exclusivamente em uma área devido às condições específicas existentes ali. No Rio Iguaçu, a endemia é consequência do isolamento causado pelas Cataratas do Iguaçu, associado à compartimentalização geológica da bacia. O Rio Iguaçu é caracterizado por apresentar um alto grau de endemismo e um pequeno número de espécies de peixes quando comparado com outros afluentes do Rio Paraná.

Extinção
A Bacia Hidrográfica do Rio Iguaçu apresenta uma grande variedade de animais e vegetais, incluindo espécies sob algum risco de extinção no Estado do Paraná e no território nacional. A extinção pode ser encarada como um processo natural que as espécies sofrem ao longo do tempo. Entretanto, o uso descontrolado dos recursos naturais pelos seres humanos tem provocado um desequilíbrio na natureza, fazendo com que o desaparecimento de uma grande variedade de plantas e animais aconteça em uma escala que não é observada naturalmente, afetando uma gama de outras espécies relacionadas a ela

Conservação do Meio Ambiente

Assim como os seres humanos podem acelerar ou determinar o processo de extinção de espécies, também é possível adotar algumas ações que demonstram maior respeito ao meio ambiente e colaboram para preservar a vida no planeta:
Evite as queimadas, especialmente em regiões próximas a áreas de matas, banhados e campos naturais.
Muitos animais, quando não morrem queimados, acabam morrendo asfixiados pela fumaça ou são
caçados e atropelados quando fogem do fogo.
Não cace e nem compre animais silvestres
Evite a proximidade de animais domésticos das áreas naturais, pois é possível que eles transmitam
doenças fatais aos animais silvestres
Não solte ou dissemine espécies exóticas nos rios e nas matas. Se não tiver certeza sobre a procedência de alguma espécie, procure pela orientação dos profissionais da área ambiental.
Se criar gado, mantenha-o sempre cercado no pasto, evitando assim o pisoteio do interior de florestas
Não lave equipamentos de agrotóxicos e máquinas junto dos rios e lagos. Muitos peixes e outros animais morrem intoxicados pelo veneno ou por óleos e graxas.
Não jogue lixo em vias públicas, em rios ou no interior das matas.
Destine corretamente os resíduos separando a parte orgânica (que pode ser convertida em adubo) dos recicláveis (que podem ser utilizados para geração de renda).
Procure sempre o destino correto para o esgoto e os dejetos (fezes, urina, etc.). Nos locais onde inexiste a coleta do esgoto podem ser instaladas fossas sépticas. Além de buscar informações e orientações que possam melhorar os hábitos sanitários, é importante também que a população se organize e questione o poder público, caso haja ausência desses serviços.

Acervo das comunidades nativas

Nação Guarani
Os seus integrantes ocupavam grande parte do território do Paraná. Tinham como principais traços culturais a riqueza de seu universo simbólico e místico, geralmente voltado para o aprendizado da vida na selva e valorização dos antepassados e da própria cultura, sendo elemento determinante para a manutenção de sua identidade. Eles regulam suas relações sociais, políticas e econômicas por meio da religião, que culmina com a busca da terra sem males, onde os homens vivem em plena harmonia e há o encontro com o Deus criador do mundo. A agricultura - representada pelo milho, mandioca, batata-doce, cana-de-açúcar, feijão, banana e amendoim - era a principal forma de sustento e obtenção de alimentos. Era praticada pelo sistema de coivara, que consiste na derrubada e queima da vegetação para realização de cultivos agrícolas, técnica ainda utilizada por nossa agricultura. Na lavoura, o milho assumia importância superior a qualquer outro elemento cultivado, sendo que deste eram produzidos diversos tipos de farinha, além de pamonha, pipoca e outros tantos alimentos. Cultivavam, ainda, o tabaco, que assumia importante papel na vida cotidiana e, sobretudo em alguns rituais. A alimentação era complementada pela coleta do pinhão, palmito, coco, mel, larvas de abelhas e de outros insetos. Utilizavam também a erva-mate e o guaraná.
As habitações eram retangulares, possuindo uma armação de madeira resistente recoberta por folhas de palmeira ou outra planta similar. As paredes eram feitas de paus roliços amarrados por cipós, podendo ou não ser revestidos de barro. Dormiam em redes e cada casa abrigava várias famílias. A organização da comunidade era patrilinear, em que até 60 famílias obedeciam a um único chefe. Eram caracterizados por possuírem índole pacífica, adorarem música e serem excelentes trovadores.
Os Guaranis exerciam várias atividades artesanais, como a produção de cerâmicas, cestos, jangadas, machados, pilões, e também a fiação de algodão para tecelagem e fabricação de vestimentas. Nas ocasiões festivas, realizadas em épocas de fartura provinda da colheita, enfeitavam-se com cocares e penas, braceletes e colares de sementes, além da pintura corporal.
Possuíam algum conhecimento astronômico e sabiam, com perícia, utilizar as propriedades terapêuticas da flora local.
Atualmente a população Guarani do Paraná situa-se em Terras Indígenas, em conjunto com os Kaingang, ou em pontos esparsos fora das reservas demarcadas.

Nação Kaingáng
Tradicionalmente constituíam uma série de grupos nômades que deslocavam-se por grandes territórios de caça e coleta, situados nas regiões centrais dos estados do Sul do Brasil e Norte da Argentina. Para o Guarani, Kaingáng era aquele que não se deixava pacificar, que vinha do mato. Atualmente habitam reservas indígenas, não sendo raros os conflitos com os não-índios pela posse da terra. Eram poligâmicos e seu principal organismo social eram os clãs, e em seguida família. O sistema clânico se estende a coisas que frequentemente são associados a espíritos bons ou maus.
Sua habitação era construída originalmente por uma única peça, dividida em quatro, sendo que cada divisão comportava uma família. A casa era feita com estacas, forquilhas e varas, coberta com folhas de palmeira, e eram estabelecidas nas regiões de campos. Nas florestas e margens dos rios levantavam acampamentos provisórios, onde permaneciam nas semanas ou meses em que praticavam a caça e a pesca. Hoje em dia estão integrados à economia de mercado regional como produtores agrícolas, como assalariados e também como boias-frias, fato que, entre outras coisas, os leva a adotar diferentes posturas e costumes daqueles que lhes são cultural e historicamente atribuídos.
Quanto ao vestuário, os relatos dos viajantes contam que os homens andavam nus enquanto as mulheres vestiam-se com saias feitas de fibra de urtiga, presas à cintura por fibras de cipó. Enfeitavam-se com colares feitos de conchas, sementes, ossos de pássaros e dentes de macaco. Pintavam o corpo com tinta de carvão vegetal e urucum.
A coleta, principalmente, e a agricultura eram as bases da atividade de subsistência dos índios Kaingang, por meio do sistema de coivara . Eram cultivadas variedades de milho, feijão, abóbora, mandioca e amendoim. A atividade agrícola era bastante rústica: após as primeiras chuvas os índios semeavam a terra e retornavam à área apenas no período de colheita. Eles também praticavam a coleta extraindo da mata mel, palmito, pinhão, tubérculos, raízes e plantas; comiam larvas de abelhas e outros insetos, principalmente o Coro, extraído do interior do bambu, para realizar curas medicinais, elemento muito forte em sua cultura. Usavam arco, flecha e armadilhas para pescar, caçar tatu, capivara, paca, veado e muitas outras espécies de animais, além de diversos tipos de aves. Eles mantêm, até os dias atuais, o costume de domesticar animais, como papagaios, macacos, catetos e tantos outros.
Eram guerreiros e foram os que mais resistiram ao processo de ocupação luso-brasileira.

Caboclos
A exposição Casa do Caboclo nos transporta a um universo em que o caboclo, pilar da ocupação do território, representa a população ribeirinha, sendo sua prática comum à economia voltada a atividades de subsistência.
A população cabocla, caracterizada pelo modo de vida simples e despojado, prezava muito a interação com os elementos da natureza. Seu jeito de ser e viver não agredia o meio ambiente, pois era retirado apenas o necessário para sua sobrevivência. A ocupação do território pela população cabocla foi marcada pelo movimento itinerante, ou seja, a família permanecia em um local por aproximadamente dois anos, mudando-se, em seguida, para outra localidade. Devido à grande mobilidade dessa população, tal povoamento não significou efetiva estruturação da propriedade fundiária, que praticamente inexistia como posse. Nessa população, era possível encontrar elementos das culturas indígena e luso-brasileira, resultantes dos processos de colonização e imigração.
A mobilidade característica da cultura cabocla deve-se ao tipo de agricultura praticada por eles, chamada de coivara, que incluía a cultura do milho, mandioca e feijão. Essa forma de cultivo desgasta rapidamente o solo, empobrecendo-o, fator que explica o movimento itinerante dos caboclos. A população vivia também do extrativismo, coletando o pinhão e vários outros frutos na mata, complementando sua dieta alimentar, além da prática da caça.
A casa de um único cômodo era geralmente construída com madeira ou taquara retirada da mata, com eventual uso, também, de madeira em corte industrial ou folhas trançadas. O telhado era de folhas de palmeira ou outro material que oferecesse alguma proteção. Não possuía banheiro, água ou energia elétrica e era preenchida com poucos móveis, geralmente camas, alguns bancos e artefatos pendurados nas paredes. Todo tipo de material que podia ser utilizado, era empregado para a construção da casa, não seguindo, portanto um padrão muito bem definido, o que evidencia uma característica da cultura cabocla: viver de acordo com as condições que o meio oferecia e usar materiais e artefatos que estão à disposição. À medida que desenvolviam suas atividades produtivas, levantavam moradias e constituíam vilas e comunidades, foram mantendo contato com os habitantes daquela região, incorporando vários elementos da cultura cabocla e indígena.
Segundo alguns historiadores, o Vale do Iguaçu só foi efetivamente povoado pelos não índios com a vinda de imigrantes para a região, a partir de 1873. Aquela população foi atraída para o Brasil por meio de projetos de colonização levados a cabo pelo Governo Imperial e empresas privadas estrangeiras. Foi dessa forma que ucranianos, poloneses, alemães, italianos, russos, austríacos e outras etnias foram se instalando no Vale do Iguaçu.

Diante da mata bruta e abundante que caracterizava a região à época, o colono não podia de imediato aplicar a agricultura de rotação de culturas à qual estava acostumado em seu país de origem. Para expandir sua área agricultável, incorporou o sistema de queima e plantio utilizado pelo caboclo. Como as propriedades eram pequenas, o sistema de rotação de cultura, quando aplicado, esgotou-se em duas ou três gerações. Outra importante contribuição dos colonos europeus foi o profundo sentimento de religiosidade, elemento preponderante nessas populações, fato que provocou o surgimento de diversas igrejas na região, muitas com arquitetura peculiar e até então inexistentes na região. Passaram a utilizar técnicas agrícolas mais modernas, como adubos, maquinários e carroças, transformando a agricultura em uma atividade mais desenvolvida e mercantilista, diferenciando-se em muito da cabocla, rústica e eminentemente para subsistência familiar.
A coleta não era elemento forte para a dieta dos colonos, mas sim o extrativismo, que aqui ganhava conotações mercantilistas, sendo a erva-mate e a madeira os principais produtos desta atividade, permanecendo durante muitos anos como os mais rentáveis do Paraná.
A caça também não era importante fator na complementação da dieta alimentar, uma vez que o suprimento de carne se dava por meio da criação doméstica.
O aperfeiçoamento tecnológico também marcou a entrada dos colonos no vale do rio Iguaçu, uma vez que, aos poucos, o característico carro de boi, utilizado pela cultura cabocla, foi sendo substituído pela carroça, que conferiu maior agilidade ao transporte de mercadorias e de pessoas, fato que ajudou em muito no desenvolvimento da comunicação entre as várias colônias que eram fundadas na região. O vestuário também foi elemento transformador, trazendo novos elementos, como lenços e calçados, integrando à paisagem cores vivas e chamativas que não eram vistas com os caboclos que habitavam a região.